CONHEÇA O CEL MILTON LUIZ LEMES DO PRADO

     CEL MILTON LUIZ LEMES DO PRADO (BITINHO)

 

O Cel Milton Luiz Lemes do Prado, um falante avaiano que vive cercado pelo carinho de cinco filhos e da esposa – há quase 60 anos – Ronilda Rickel do Prado, não hesita em rememorar as histórias vividas como policial militar e como pioneiro entre os bombeiros militares em Santa Catarina. Lembranças não faltam, como o fatídico incêndio na indústria de massas Ádria, onde prestou socorro no Rio Grande do Sul, e o dia em que, dispensado pelo então governador Jorge Lacerda, se livrou de embarcar no voo que ocasionou a morte não apenas do chefe do executivo catarinense, em 1958, mas também de seus adversários políticos, Nereu Ramos e Leoberto Leal.

Criado na vila da PM, onde permanece em atividade o Hospital da Polícia Militar Comandante Lara Ribas, o Cel Bitinho é filho do Ten Cel Luiz Lemes do Prado e irmão do Cel Newton Lemes do Prado. Apesar da longa formação como policial, em Florianópolis e São Paulo, na primeira oportunidade migrou para o Corpo de Bombeiros, que na década de 1940 não dispunha de comando próprio e menos ainda de estrutura adequada para garantir os salvamentos. Para aprender a ensinar, a fim de formar mais profissionais da área em Santa Catarina, o Cel Bitinho buscou aperfeiçoamento em Porto Alegre.

Em 1967, a corporação passou a exigir uma Especialização para quem quisesse trabalhar como bombeiro, sob pena de o Oficial sem brevê passar para a Reserva. “Ganhei 48h para embarcar para o curso com duração de oito meses”, lembra o coronel que já havia atuado em Curitibanos e em Rio do Sul, e que pela primeira vez levou a família consigo. “Naquela época havia tão poucos oficiais que a gente era ao mesmo tempo comandante e instrutor dos praças. Chegar a major era uma coisa fabulosa”, conta.

Responsável pelo comando do Corpo de Bombeiros (CCB) por 16 anos (período eventualmente interrompido por cursos e atividades junto ao Governo do Estado), o Cel Bitinho não recorda de qualquer atrito com os militares do Exército, com quem interagia nos períodos do Governo Militar. No âmbito da corporação, entretanto, eram frequentes as desavenças por conta da intensa disputa político-partidária que ecoava nos quarteis, com oficiais divididos entre PSD e UDN. “Dependendo de quem assumia o comando, quem era do partido oposicionista acabava transferido para o Oeste ou para o Planalto”, lembra.

Udenista, foi convidado pelo governador Jorge Lacerda, da maneira mais inusitada possível, para trocar a rotina nos bombeiros por um cargo na Casa Militar, quando o Palácio do Governo ainda tinha vista para a Praça XV de Novembro. “Eu estava no alto da escada Magirus quando avistei o governador. Ele ficou debruçado no muro do QG sem se anunciar, e assim que eu desci, pediu que o acompanhasse até o Palácio”, revela o coronel, ainda tenente na época. “Eu imaginei que seria pela escolta, mas chegando lá recebi um convite para trabalhar com ele. Na hora só pensei: e o corpo de bombeiros, o meu xodó?”, confessa.

Empenhado em realizar suas funções, o que exigia que soubesse de cor toda a agenda de compromissos do governador e os números telefônicos de todas as autoridades, o Cel Bitinho não poderia esquecer a data em que, no gabinete de Jorge Lacerda, ficou encarregado de providenciar um bilhete aéreo para o Rio de Janeiro, então Capital Federal. “Eu estava tomando café com o governador e ele pediu que eu solicitasse a passagem ao chefe da Casa Civil, o professor Altino Flores. Apesar de as viagens renderem uma diária dobrada, fiquei desejando não precisar ir com ele”, revela o Cel Bitinho, que esteve com Jorge Lacerda até o momento em que ele e seus adversários embarcaram juntos para o Rio. O avião Convair 440 da Cruzeiro do Sul batizado de “Alcion”, prefixo PP – CEP, recém-chegado ao Brasil, era considerado uma maravilha, mas ainda assim não chegou ao seu destino.

Salvo da morte por um triz, o Oficial retomou a posição que nunca desejara deixar: o Comando do Corpo de Bombeiros, que sob seus cuidados ganhou novos equipamentos, instalações e status, apesar da estreita dependência financeira da Polícia Militar. Entre suas principais conquistas para o CCB estão o terreno no Estreito que hoje abriga o 1º BBM, um terreno em Capoeiras onde hoje está instalado o Batalhão de Polícia Militar Rodoviária, e as estações de bombeiros de Itajaí, Rio do Sul, Tubarão, Criciúma e Blumenau, erguidas com projeto similar, pesquisado em São Paulo pelo Cel Bitinho.

Entre os equipamentos adquiridos em sua gestão estão o caminhão conversível Ward de la France, que revolucionou a cobertura a incêndios com mangueiras de engate rápido, e uma lancha com motor Volvo. A ordem de compra, solicitada muito tempo antes, foi autorizada após o filho do governador Ivo Silveira, o Ivinho, ser salvo de um afogamento em Balneário Camboriú por bombeiros que dispunham apenas de um barco de madeira, modelo Sandolin. A nova, em compensação, era melhor do que a da Marinha.

“Minha luta era separar a PM e o BM, mas eu precisava ser diplomático, não podia enfrentar o Comando-Geral para não sofrer perseguições. Então comecei separando fisicamente. Levei o QG dos bombeiros para um endereço próximo ao banco redondo. Naquela época, no Brasil, ninguém tinha um comando separado. Mas aqui, aos poucos, fomos desvinculando as corporações”, conclui o coronel que, de forma intermitente, respondeu pelo comando dos bombeiros de 1º de janeiro de 1957 a 26 de abril de 1973, e que passou para a Reserva em 28 de fevereiro de 1977.

Celebração com a esposa, Ronilda Rickel do Prado

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ENTREVISTA E REDAÇÃO: Jornalista Ana Lavratti – jornalista@acors.org.br

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