CEL SIDNEY PACHECO
Quase 30 anos se passaram desde que o Cel Sidney Pacheco passou para a Reserva da Polícia Militar em Santa Catarina. As lembranças do profícuo tempo na Ativa, no entanto, permanecem tão claras e vigorosas na memória que ele não contém a emoção ao recordar e contar momentos marcantes, como a atuação como Prefeito, como Delegado, Chefe do Estado Maior-Geral da PMSC e Comandante-Geral das duas corporações: o Corpo de Bombeiros Militar e a Polícia Militar, assumida após turbulentos Anos de Chumbo, quando o Exército devolveu o comando aos militares estaduais.
Filho, neto e sobrinho de militares (seu avô materno, Cap João Batista Paiva, participou das campanhas revolucionárias de 1924, 1926 e 1927), o Cel Pacheco é da primeira turma da Academia da Trindade, onde estudou em 1959 e 1960. Apesar da prática extenuante, o Oficial da PM nunca deixou de buscar a teoria e dar continuidade aos estudos. Em São Paulo e em Santos, estagiou na Rádio Patrulha, buscando referenciais para a implantação do patrulhamento motorizado em Santa Catarina. Nos Estados Unidos, frequentou a Academia Internacional de Polícia, a Escola de Guerra e a escola do FBI, tendo recebido um dos diplomas das mãos de Robert Kennedy, então Secretário de Segurança.
Seu pai, o Cel Carlos Wenceslau Pacheco, ficou viúvo muito cedo, e a solução para conciliar trabalho e família era cuidar dos dois ao mesmo tempo. “O quartel era o meu parquinho”, lembra saudoso o Cel Pacheco, que andava de bicicleta entre homens fardados e se distraía com os devaneios de Oficiais obstinados, que forjaram não apenas as corporações mas também a própria segurança em Santa Catarina. Chefe do Serviço de Rádio-comunicação, seu pai construía, consertava e instalava equipamentos, às vezes recorrendo a carros-de-boi para garantir que os transmissores chegassem ao seu destino.
“Apesar do sacrifício, ele não conseguia parar de trabalhar. Lembro dele dizendo que o militar morre duas vezes: primeiro ao passar para a Reserva e depois de novo, quando vem a óbito”, conta o herdeiro de extrema determinação. Antes de entrar para o CFO – o que deixou seu pai visivelmente emocionado – o Cel Pacheco trabalhava na Prefeitura durante o dia, no Sindicato do Porto à noite, e ainda cursava contabilidade. “Nunca fugi dos desafios”, explica. Tanto que aceitou a indicação do Cel Lara Ribas para, ainda como Tenente, assumir a prefeitura de um município recém-fundado, o de Palma Sola, quase na fronteira com a Argentina.
“O hotel parecia um saloom”, lembra. “E a primeira recomendação que o Juiz me deu foi nunca sentar de costas para a porta”, completa o prefeito de Palma Sola pelo período de dois meses. Em 1963, com a experiência de quem havia sido o primeiro comandante da Rádio Patrulha em Santa Catarina e percorrido todo o Estado para fazer um inventário do patrimônio da PM – contabilizando as armas e munições disponíveis nos quarteis –, o Cel Pacheco foi nomeado Comandante do Destacamento da Penitenciária. Até ser promovido a Capitão, o Oficial exercia ali um turno sem fim. Trabalhava sábado, domingo e durante a noite, acompanhando e ajudando no que fosse preciso, e destacando-se pelo tratamento humanizado. “Eu via um ser humano atrás de cada uniforme”, conta.
A habilidade para gerir suas equipes acabou se convertendo em nova transferência. Entre 1965 e 1971 o Cel Pacheco atuou como Delegado de Polícia, Delegado de Segurança Pessoal e Delegado de Furtos, Roubos e Defraudações. “Novamente tive sorte, pois além de ser bem recebido pelos civis, fizemos uma grande apreensão de contrabando em Itajaí, com o material descoberto quase por acaso, enquanto investigávamos outro caso. Repercutiu muito. Fiquei famoso”, comemora o militar que deixou um legado à polícia civil, retomando inclusive o andamento de inquéritos parados.
Mais tarde, tendo sido aprovado em 1º lugar no Curso de Bombeiros para Oficiais no Rio Grande do Sul, o Cel Pacheco assumiu o Subcomando-Geral do Corpo de Bombeiros Militar, em 1971, e após novo intervalo como Delegado, o Comando-Geral do CBM, em 1981. “Data desta época o serviço de prevenção contra incêndios, com as primeiras normas formuladas”, revela o então Tenente Coronel que também teve contribuições expressivas em termos de infra-estrutura, adquirindo 54 viaturas via liesing e negociando pessoalmente a transferência de terrenos – hoje sedes do Comando-Geral e do GBS – da Casan para os Bombeiros. Até a existência da Beira-Mar Norte, tratava-se de um lote único, e foi necessário convencer os responsáveis a desviar o curso da avenida para ampliar a área disponível à beira-mar.
Outra passagem inesquecível, contada com justificado orgulho, é a do sequestro interrompido a paisana. De saída para a praia, o Comandante-Geral da PMSC soube de diversos crimes cometidos por fugitivos, que culminaram com o sequestro de uma menina de quatro anos. Mesmo sem farda, o Cel Pacheco se dirigiu ao local e, diante das frustradas tentativas de negociações registradas até aquele momento, entrou na casa na primeira oportunidade. Sozinho, acovardou os dois sequestradores, tomou suas armas, liberou a criança e devolveu os foragidos à penitenciária, sob aplausos. Passados tantos anos, ele ainda guarda a carta manuscrita pelo padre Pedro Keller, em reconhecimento à sua coragem.
Apesar da dedicação e da disposição, ele confessa não ter sido fácil seu período no Comando-Geral, de 1983 a 1985. “Como a abertura política era recente, havia grande ansiedade na classe política. Queriam interferir em tudo. E para piorar as enchentes levaram o Governo a cortar drasticamente o orçamento em todos os setores”, explica o Coronel que deixou impactantes contribuições à Polícia Militar, criação do COPOM, do Colégio Policial Militar, na época com ensino integral, e da Polícia Feminina, mesmo sob forte resistência.
Também contaram com o pessoal empenho do Cel Pacheco a instalação do Museu Major Lara Ribas em local obtido do Exército por meio de parcerias; a instalação do monumento em homenagem ao Sesquicentenário da PM na Beira-Mar Norte; a realização de um desfile histórico em 7 de Setembro, com participação de todas as unidades e subunidades da Capital e do interior; a criação do centro cirúrgico do HPM e de uma moderna Odontoclínica, atualmente desativada.
Ao passar para a Reserva, o Cel Pacheco deixou a farda mas jamais o trabalho, realizado com disciplina e seriedade. Primeiro Oficial eleito Deputado Estadual – reeleito quatro anos mais tarde – é autor de uma Emenda que garante a estabilidade dos Praças após três anos de efetivo serviço e do Projeto de Lei que requeria o pagamento de pensão integral às pensionistas dos policiais militares. “O PL foi aprovado pela Assembleia, vetado pelo governador, conseguimos que os deputados rejeitassem o veto e mesmo com a Lei aprovada as pensionistas tiveram que ingressar na Justiça para receber”, explica, satisfeito pelo pagamento da pensão integral estar em vigor desde 1990.
Na segunda legislatura, o Cel Pacheco foi nomeado Secretário de Estado da Segurança Pública e posteriormente Diretor Estadual de Defesa Civil, Secretário de Segurança e Defesa Civil de São José e Assessor Jurídico na Procuradoria Municipal de São José. Agraciado com inúmeras medalhas, como a Medalha de Mérito Nacional de Defesa Civil, o Cel Pacheco não poupou esforços como Diretor da Defesa Civil para “salvar” o Complexo Lagunar, propondo um cronograma de ações para reverter a poluição nesta reserva ecológica, infelizmente sem o sucesso típico de suas iniciativas.
“Em muitas ocasiões, a inspiração para o meu trabalho veio das conversas do meu pai com seus amigos de quartel, que eu ouvia ainda criança. Naquele tempo eles já falavam como seria bom ter um colégio militar. Isso e outras iniciativas que tentei implementar”, conta o pai de sete filhos. Casado em segundas núpcias com Maria Elizabeth Gonzaga Pacheco, o Cel Pacheco tem 13 netos, um bisneto e pelo menos uma herdeira do interesse pela Segurança Pública. Sua filha Andréa, Delegada da Polícia Civil, responde hoje por uma Secretaria Municipal criada por ele, a Secretaria de Segurança e Defesa Civil de São José.
Prefeito em Palma Sola, na Região Oeste de Santa Catarina
Início do serviço de Rádio Patrulha
Cumprimentado pelo então Secretário de Segurança norte-americano Robert Kennedy, após conclusão de capacitação nos Estados Unidos
Desfile Cívico histórico no governo de Esperidião Amin
Registro na mídia, nos 150 anos da PMSC
Aposta na Polícia Feminina sob grande resistência e forte ceticismo
Carta manuscrita pelo padre Pedro Keller: gratidão pela solução do sequestro de uma criança
ABAIXO, MAIS REGISTROS:
Em novembro de 2014, recebido pelo presidente da ACORS na sede da entidade.
ENTREVISTA E REDAÇÃO: jornalista Ana Lavratti – jornalista@acors.org.br
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