Lição de uma hora fúnebre

“Amigas e amigos
Vivemos uma ‘Guerra não declarada – até com ações de terrorismo’, onde a bandidagem, com certeza de que podem delinquir em virtude de leis que os protegem e impedem a população de ter seus meios de defesa, agem impunemente. Estamos no patamar de 50 mil assassinatos por ano. Guerras atuais pelo mundo registram menos mortos do que nosso ‘pacífico País’.
Vejam a manifestação de um povo que valoriza seus policiais, pois sabem que são eles que lhes dão a tranquilidade para trabalhar e sobreviver. E se um policial transgredir: Puna-se!
E lembro a frase de um amigo: ‘Povo que não respeita seus policiais, não merece tê-los’.
Vamos pensar a respeito do artigo da Veja:
Abç
Edu”
 

Lição de uma hora fúnebre
 
10 Dez 2012
    
Internacional
Uma pequena cidade dos Estados Unidos enterra um policial assassinado e até o governador manda condolências. Não poderia ser igual no Brasil?

“Para os Estados Unidos, um país onde é raro um policial ser assassinado, a semana passada foi tristemente especial – e trouxe uma singela mensagem aos governantes brasileiros. Na terça-feira, na pequena cidade de Cold Spring, no estado de Minnesota, aconteceu o velório do policial Tom Decker, 31 anos, assassinado em serviço na semana anterior. Decker morreu quando atendia um chamado aparentemente banal no centro da cidade. Ao descer da viatura, levou dois tiros. Vestia colete à prova de bala, mas morreu na hora. Deixou mulher e quatro filhos do primeiro casamento, de 5, 6, 7 e 8 anos. Um suspeito foi preso e interrogado, mas acabou sendo solto por falta de evidências.

Na quarta-feira, deu-se o enterro do policial, com uma homenagem tocante. Mais de 3000 pessoas compareceram à cerimônia fúnebre, inclusive policiais de estados vizinhos que nem conheciam Decker. A solidariedade dos policiais americanos é uma marca da categoria. Em todo o estado de Minnesota, as bandeiras foram hasteadas a meio mastro. As pessoas se aglomeraram nas margens da estrada à passagem das dezenas de viaturas que formavam o cortejo. O governador, o democrata Mark Dayton, enviou condolências públicas à família e fez questão de enaltecer a missão do policial: “O policial Decker morreu enquanto protegia seus concidadãos. Seremos eternamente agradecidos pelo seu heroísmo”.

Qual o último governante brasileiro que agradeceu o heroísmo de um policial? Cold Spring tem apenas 4 000 habitantes e a violência é uma visita rara. Mas não é isso que explica a homenagem pública e a reação do governador, e sim o valor que se dá à vida humana, o respeito a um servidor público e a noção de que a política tem função civilizatória. Um governante precisa liderar os gestos de civilidade pública. Mesmo numa megalópole como Nova York, a cidade americana com as dimensões mais próximas das de São Paulo, a morte de um policial provoca manifestações semelhantes de respeito à vida e solidariedade com a família. No ano passado, dois policiais foram mortos em Nova York. Em março, Alain Schaberger respondeu a um chamado de briga doméstica e, ao chegar ao local , tentou algemar o suspeito. Acabou sendo empurrado violentamente sobre uma grade e despencou de uma altura de 3 metros sobre uma escada de concreto. Morreu no hospital. Tinha 42 anos. Em dezembro, Peter Figoski foi baleado no rosto quando tentava evitar um assalto. Também morreu no hospital. Tinha 47 anos, 22 anos de serviço. O prefeito Michael Bloomberg divulgou declarações em homenagem aos dois e compareceu aos velórios. Durante o enterro de Figoski, o prefeito ficou consolando as quatro filhas do policial morto.

Nos países ricos, o assassinato de um membro da polícia não é coisa frequente. Segundo dados compilados pelo FBI, a polícia federal americana, 72 policiais foram mortos no ano passado em todo o país. No Brasil, o assassinato de 72 policiais num ano seria um resultado absolutamente fenomenal. Nos Estados Unidos, esse número é motivo de preocupação. O total é 25% superior ao do ano anterior. É o mais alto em quase duas décadas, excluindo-se da conta os policiais mortos nos atentados terroristas de 2001 (Nova York) e 1995 (Oklahoma City). Mesmo com o aumento da matança de policiais, a rotina americana é invariável: o chefe máximo da força a que pertencia o servidor morto – o prefeito, o governador, o presidente – comparece à cerimônia fúnebre, visita a família, manda condolências.

Em Manchester, cidade industrial da Inglaterra, duas policiais foram assassinadas em setembro passado. Estavam respondendo a um caso de arrombamento. Ao chegarem ao local, foram recebidas a tiro. Uma delas tinha 23 anos. Deu-se o mesmo ritual. O primeiro-ministro da Inglaterra, o conservador David Cameron, veio a público dizer que os assassinatos eram um “lembrete chocante da dívida que temos com aqueles que arriscam a vida para nos manter seguros e protegidos”. Qual o último governante brasileiro que falou algo parecido? A presença de uma autoridade no velório de um servidor público, ou a manifestação de pesar e solidariedade aos familiares, só tem vantagens: não custa nada aos cofres públicos e ainda transmite à sociedade a mensagem de que todos, cidadãos e autoridades, estão no mesmo barco.

A polícia brasileira tem mais corrupção e mais bandidagem do que a dos países ricos. Antes de um governante lamentar a morte de um policial, precisa certificar-se de que não se trata de um bandido de farda assassinado pela quadrilha rival. Do início do ano até a semana passada, o governador paulista Geraldo Alckmin, do PSDB, assistiu ao assassinato de 100 policiais. É a maior onda de violência contra a força de segurança pública do estado desde 2006. É mais do que o total de policiais assassinados nos Estados Unidos inteiros. Alckmin trocou o secretário de Segurança Pública e aumentou a indenização às famílias para 200000 reais. Não compareceu ao enterro de nenhum dos 100 policiais assassinados. Quem sabe na centésima primeira vítima?”

 
FONTE: ANDRÉ PETRY, de Nova York.  Revista Veja de 12 de dezembro de 2012, p. 146, 148.

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