Requiescant in pace
Ana Claudia Quintana Arantes – geriatra especialista em cuidados paliativos – nos diz que a morte ensina a viver. Em uma entrevista, ela nos fala de maneira tranquila e didática o que é viver, o que é morrer. A morte está ligada ao tempo. “O tempo que nós temos é um tempo que não volta atrás. Quando dedicamos um tempo à outra pessoa, esta pessoa nos dedica o mesmo espaço temporal. Esta conta fechou, pois o tempo não volta mais. Quando falamos sobre a morte, a noção de tempo fica muito mais valiosa. A pessoa que vive na expectativa de um tempo que ainda não chegou está vibrando para que o tempo dela passe rápido. Neste caso, você não tem a menor noção de importância sobre o seu tempo. Esse tempo não vai voltar, pois a vida não tem um botão de liga e desliga. Não tem como negociar dizendo: eu vou viver quando me aposentar. A roda está girando e a vida vai acabar. O fato de você ponderar sobre a sua morte traz um pouco mais de lucidez sobre as suas escolhas do que fazer no momento. Felicidade é você estar pleno com aquilo que realizou. Depois de certo tempo de vida, você olha para trás e diz: dei conta, eu consegui passar por isso. Sinto-me feliz em ser quem eu sou, pois dei conta de fazer, mesmo que tenha passado por dificuldades. Isso é noção de felicidade, de realização, de sentido de vida. Quando você olhar no relógio e verificar que tem pouco tempo de vida você vai olhar para trás e dizer: eu fiz bom uso do meu tempo”.
Esse tempo que não volta atrás levou embora, num curto período, três Ex-chefes do Estado-Maior-Geral da Polícia Militar catarinense. Primeiro partiu o Cel José Valter Alves; depois o Cel João César Pastoris Formighieri; e, na sequência, o Cel Alinor José Ruthes. Do Cel Valter guardamos a emblemática imagem do professor de estatística na Academia de Polícia Militar da Trindade e de matemática no plantão pedagógico do Instituto Estadual de Educação; o Cel Formighieri nos conduziu pela senda das aulas de guerra revolucionária sempre trajando orgulhoso o impecável uniforme cáqui; já o Cel Alinor deixou fortes valores, típicos de um autêntico oficial prussiano que, nas palavras do Cel Edmundo, “trata-se de um dos mais ilustres oficiais da corporação, exemplo de integridade, dignidade e personalidade”. Fica a certeza de que eles viveram felizes, pois fizeram bom uso do seu tempo, legando-nos sólidos princípios ético-morais. A corporação é hoje o que eles ajudaram a forjar. Nós jamais os esqueceremos. Repousem em paz.
Fred Harry Schauffert
Cel PM R/R Presidente da ACORS
Requiescat, Tela a óleo pintada por Briton Rivière, 1888, Galeria de Arte de New South Wales.